Mandioca industrial: preços ainda atrativos em 2005

            A produção brasileira de mandioca da safra 2003/2004, em andamento, é estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 23,9 milhões de toneladas, 8,0% superior ao volume resultante da safra anterior. Mesmo assim, deve ser 2,5 % menor do que as 24,5 milhões de toneladas obtidas em 2000/01 e 6,0% inferior ao recorde de 1994/95 quando alcançou 24,4 milhões de toneladas.
            Essa elevação se deve, principalmente, à maior produção verificada no Estado do Paraná, a qual cresceu de 2,3 milhões para 3,4 milhões de toneladas (43,3%). Outros Estados, importantes produtores de mandioca e derivados, também apresentaram crescimento, casos de São Paulo (22%), Santa Catarina (10%) e Mato Grosso do Sul (7,9%).
            O Pará apresentou redução de 6,6%. Embora a cultura da mandioca tenha caráter predominantemente de subsistência, nos últimos anos o Estado vem disputando a primeira colocação com o Paraná no ranking das unidades da federação maiores produtoras, além de ser importante fonte de suprimento de farinha para o Nordeste. A região nordestina, que tem o maior consumo per capta de farinha, apresentou crescimento de 7,4%.
            Mesmo que os maiores aumentos tenham ocorrido nos Estados em que o caráter comercial da atividade é mais acentuado, os preços recebidos pelos produtores ainda encontram-se em patamares relativamente elevados. Os preços, que estiveram aviltados durante praticamente todos os meses de 2001 e 2002, por conta da recuperação da oferta a partir da safra 1999/2000, atingiram em São Paulo R$301,07 em março do corrente, o nível mais elevado em valores reais desde 1994.
            Mesmo tendo se reduzido com o início da safra, o preço médio de R$ 194,24 por tonelada em junho foi o maior nos últimos dez anos, nesse mês que pode ser considerado o auge da safra. Em parte, esse comportamento pode ser atribuído ao fato de que a demanda por mandioca vem aumentando nesses Estados, por conta, principalmente, da instalação, nos anos recentes, de mais fecularias, inclusive de origem estrangeira, notadamente no Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Isto vem modernizando a industrialização da raiz visando à obtenção de féculas modificadas, aumentando assim o leque de utilização do produto. Em agosto, os preços voltaram a subir, situando-se em R$208,04 por tonelada, fato que deve ser atribuído às dificuldades de arranquio da raiz face ao prolongado período de estiagem, que ainda se observa.
            Nos últimos anos, o mercado tem sido crescente para a fécula, que se mostrou mais competitiva em relação ao amido de milho como insumo para diversos ramos industriais, como por exemplo o de papel. De acordo com dados da Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (ABAM)1, a produção nacional de fécula de mandioca evoluiu de 170 mil toneladas em 1990 para 428 mil toneladas em 2003 e a meta da entidade para 2004 é de 620 mil toneladas. Contudo, a instabilidade observada nos preços da raiz se constitui em obstáculo ao pleno desenvolvimento do mercado de fécula de mandioca, tanto interno quanto externo.
            As exportações de fécula de mandioca apresentaram reversão de tendência. Conforme a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)2, o volume exportado evoluiu de 14.399 toneladas em 1996 para 24.779 t em 2002, caiu em 2003 para 15.741 t e atingiu apenas 5.362 t até agosto de 2004. As exportações de fécula modificada apresentaram o mesmo comportamento: evoluíram de 9.688 t, em 1996, para 32.116 t em 2002, mas recuaram para 23.750 t em 2003 e registraram 17.613 t até agosto de 2004.
            O principal destino da raiz da mandioca é a indústria de farinha. Na região Nordeste, é importante a produção familiar de subsistência cujos excedentes são destinados ao mercado. Essa peculiaridade exerce influência na formação dos preços da raiz em todas as regiões do país, já que em função da oferta os fluxos de comercialização de farinha se diversificam e alternam os destinos.
            Em São Paulo, no momento, a perspectiva é de que os preços recebidos pelos produtores voltem a cair com a chegada das chuvas e a retomada da colheita. Além disso, segundo informações da principal região produtora do Estado, as farinheiras estão tendo pouca margem devido à alta ociosidade por causa da vinda de farinha do Nordeste do País, onde a produção está regularizada após duas sucessivas frustrações de safra.
            Por outro lado, a normalização do mercado com a esperada maior oferta de raiz em 2005 já está um pouco comprometida, uma vez que a estiagem de mais de setenta dias está impossibilitando as operações de plantio. Assim, muitas áreas plantadas em julho e agosto estão sendo perdidas, fato que deverá contribuir para a maior sustentação dos preços no próximo ano.
            O retorno de importante fecularia da região do Vale do Paranapanema às operações de processamento de raízes também deve dar mais suporte aos preços. As fecularias estão fazendo contrato de fornecimento com produtores de mandioca por preço mínimo de R$ 120,00 por tonelada. No momento, os preços recebidos pelos produtores paulistas estão variando de R$ 200,00 por tonelada na região de Assis a R$ 230,00/t na região de Presidente Venceslau.
            As indústrias, a partir da atual safra, estão definindo o preço a ser pago ao produtor pelo teor de amido obtido através de uma balança hidrostática. O teor de amido varia em função da variedade, do mês de colheita e da idade da planta, que são os fatores mais relevantes na concentração de amido na raiz.
            No momento, o preço de mercado está situado em R$ 0,40 por grama de peso aparente (renda). Essa sistemática interessa às empresas que buscam maior rendimento industrial já que os agricultores serão estimulados a cultivar as variedades de maior teor de amido. Ao se privilegiar a qualidade, haverá intensificação do regime sazonal uma vez que os agricultores deverão buscar a comercialização no momento de maior teor de amido das raízes, o que ocorre no inverno.

1 ABAM: www.abam.com.br
2 SECEX/MDIC: www.mdic.gov.br

Data de Publicação: 13/10/2004

Autor(es): José Roberto Da Silva (josersilva@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor